"Ontem chorei, vi nos olhos de uma criança, um olhar sem amanhã."

* Mostrar a realidade

A minha intenção ao colocar estas postagens é de mostrar todos os problemas que envolvem as crianças abandonadas.
Tanto os problemas relacionados ao abandono, como também os traumas, as mentiras, os preconceitos. O que envolve os pais que abandonam, os pais que adotam e os filhos adotivos.
Quando se toma uma decisão de adotar é uma responsabilidade muito grande,pois se trata de um ser humano, e as marcas e recordações ficaram pra vida toda.

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quarta-feira, 8 de maio de 2013

O Brasil.

Por Roberto Tardelli

O Brasil está chato demais. É o Brasil de bandido bom ser o bandido morto, é o Brasil da cadeia, da prisão como forma de solução de conflitos sociais, é o Brasil que repele a ascensão social, que odeia ver ...pretos em faculdades públicas, é o Brasil que retrocede e que vai alinhando o apartheid como forma de organização social, made in Brazil.

O Brasil está entorpecido, intolerante, raivoso, matador, ressentido, vingativo, cruel, racista. Nas redes sociais, as fotos dos "bandidos", sempre negros armados, crianças negras armadas, atores mirins, em cena de filme brutalmente sequestrada para a realidade. Queremos prender crianças, queremos bater, defendemos torturar criminosos, defendemos invadir bairros pretos, defendemos grampos clandestinos, defendemos matar, defendemos chuva de tiros...

O Brasil tem os olhos crispados de ódio. Na TV, na histeria eletrônica, uma prova de resistência física: um repórter, meio galã, meio jornalista, deveria subir uma simulação de escadaria de uma favela com um pesadíssimo equipamento de ataque e morte nas costas. Por não conseguir, enaltece os agentes da lei que o conseguem. A finalidade passou despercebida: invadir favelas, lugar habitado por pretos e quase pretos de tão pobres, como os definiu genialmente Caetano Veloso.

Em qualquer programa, revista, jornal, a impunidade. Um menino de dezesseis anos atropelou uma senhora porque está impune; o outro bebeu e brigou com feridos e palavras obscenas aos policiais, certamente porque impune; a mãe reclama que não mais pode bater no filho, no tempo dela havia respeito porque ela podia ser espancada pela mãe amorosa. O crime horrendo e barbado somente ocorreu porque está impune, como se fosse possível punir-se antes do crime.

O Governador do estado mais rico, com um senso de oportunismo digno de um centro avante, corre na frente e apresenta um projeto de lei para aumentar a pena, para aumentar o castigo. Um preto é morto numa caçada, sob aplausos febris da população que queria mais pretos mortos. “Menos um”, é o sentimento de todos.

Minha cabeça vai explodir, não era e não é esse o país que imaginei legar para meus filhos. Nas ruas, leio uma sucessão de bilhetes zangados aos donos de cães, enquanto passeio com minha cachorra.

Porém, de repente, um ar maravilhosamente fresco, a me dar a perceber que a manhã está radiante, linda, clara. A poucos metros de mim, a mãe caminha com seu filhinho para escola. Em dado momento, inesperadamente eles dançam e é nítida sua felicidade com o garotinho que ri aberto, que ri solto e livre. Dançam com uma pequena bola que ela tirou da mochila. Ele tenta a embaixada, ela consegue e lhe devolve a pelota, guardada como se fosse um tesouro. “Esse promete”...

Ele não se contém de felicidade. O Brasil deles é o outro. Esse um que pretendem expulsar. São, claro, repreendidos por alguém que passa por ali e não se conforma de ver a liberdade livre e solta na rua. Dão de ombros e continuam incompreensivelmente felizes.

Por mais que se tente, por mais que se tenha eficiência, por mais que se queira impor o terror e o sectarismo, há um Brasil resiste, brinca, dança e faz embaixadas. E que é livre e feliz, apesar das adversidades tantas que tem.

É desse Brasil que eu espero ver meus filhos construindo suas vidas e suas aventuras.

Plural e fraterno. Sem preconceitos e justo. Fundado na dignidade humana. Em que estejamos voltados a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos.

Enfim, como o garotinho e sua mãe, livre e feliz, apesar das adversidades tantas que tem.



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