"Ontem chorei, vi nos olhos de uma criança, um olhar sem amanhã."

* Mostrar a realidade

A minha intenção ao colocar estas postagens é de mostrar todos os problemas que envolvem as crianças abandonadas.
Tanto os problemas relacionados ao abandono, como também os traumas, as mentiras, os preconceitos. O que envolve os pais que abandonam, os pais que adotam e os filhos adotivos.
Quando se toma uma decisão de adotar é uma responsabilidade muito grande,pois se trata de um ser humano, e as marcas e recordações ficaram pra vida toda.

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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Pai adotivo: conheça histórias de quem aprendeu a amar os ‘filhos do coração’

Robson esperou que o filho o achasse; Felipe e Matheus o encontraram. Nairo adotou duas crianças e aguarda na fila por mais três

Uma troca de turno mudou a vida do casal evangélico Robson e Rute Lemos de Melo. Depois que resolveram ter um filho por meio de adoção, os dois passaram a visitar abrigos. Mas as visitas não duraram muito tempo. O casal achou melhor esperar que o futuro filho o encontrasse. Ao mesmo tempo e na mesma cidade, Matheus, de 3 anos, sofria com a morte, a separação do único irmão e a difícil adaptação com os parentes que o ‘herdaram’.

Sem imaginar, que ajudaria a formar uma família, a enfermeira Nazaré aceitou trocar de turno com uma colega do Mini Pronto Socorro Denilma Bulhões, no Benedito Bentes. Durante o trabalho no sábado, 27 de fevereiro de 2010, a enfermeira lembrou-se dos amigos da igreja quando uma ‘conhecida’ perguntou se ela conhecia uma família evangélica que quisesse adotar uma criança de 3 anos. Foi aí que Matheus ganhou pai, mãe e realizou o sonho de ter um cachorro. Mas ainda faltava algo na vida do pequeno: o irmão Felipe continuava com a antiga família.


A história de como a família de Robson e Rute se formou começa a ser contada no caminho até o colégio particular em que Matheus está cursando o Jardim II e Felipe, o 1º ano do Ensino Fundamental. A reportagem da Gazetaweb registrou a alegria dos meninos na chegada de Robson à escola. Eles aguardavam o pai com os presentes do Dia dos Pais nas mãos. A ansiedade era tão grande, que os presentes foram abertos pelos próprios garotos durante o percurso de volta a casa. “Olha, pai, o seu presente”, os meninos fizeram enquanto desembrulhavam as lembranças. Felipe já escreve, foi no caderno dele que Robson descobriu um poema desejando ‘Feliz Dia dos Pais’ e um diploma de melhor pai do mundo. O resto da história foi contado na casa dos meninos, entre o vai e vem de uma casa com duas crianças e um cachorro.



“Nós podemos ter filhos, mas nós nunca engravidamos. Somos casados há 24 anos. Nós nos sentíamos completos. Nós não sentíamos falta de filhos. Mas eu comecei a me perguntar para quem ia deixar tudo o que construímos. Para o nosso cachorro, o Randori? Começamos a pensar que tínhamos estrutura para fazer com que uma criança não passasse fome, não ficasse sem escola, sem educação”, revelou Robson.


A mãe biológica dos meninos foi assassinada na porta de casa. O episódio trágico ainda acompanha os pequenos. Rute Lemos explica que a hora de dormir é uma verdadeira novela. “É como se eles revivessem isso. Eles lutam para não dormir. Mas aos poucos eles estão dormindo melhor”, disse a mãe de Matheus e Felipe. Quando chegou a nova casa, o mais velho reproduzia o gesto de proteção que fez no dia do crime. Ele enrolava um lençol em volta da cabeça para se esconder do assassino da mãe.



“Nossa casa era toda estrutura para adulto, tudo de vidro, tudo frágil. Mudamos tudo. Aqui não tinha sequer um brinquedo. O Matheus chegou com uma calça, uma bermuda, duas camisetas e a cueca que estava usando. Quando nós fomos buscar o Matheus, ele disse a um tio, corre que o meu pai veio me buscar”, falou Rute Lemos.



O pai revelou que quando Matheus viu o novo quarto, soltou a frase “É grande, dá pra mim e pra o Felipão”. Mas os pais dele não pensavam em adotar outra criança e a antiga família de Matheus, não pensavam em ‘dar’ Felipe. Mas um gesto do pequeno Matheus começou a mexer com Rute e Robson. Após sua festa de aniversário, Matheus abraçou o irmão e deu dois recados: “Qualquer dia vem brincar comigo nessa casa nova que eu to morando” e “Qualquer hora dessa eu vou levar um presente para o vô”.



As dificuldades que Felipe enfrentava o levaram a fugir de casa duas vezes, com apenas seis anos. O gesto de Matheus e as más notícias sobre a situação do menino foram o bastante para tirar o sono de Rute. O avô dos garotos teve conhecimento da vida nova de Matheus e permitiu que Felipe tivesse a mesma oportunidade. O processo de guarda de Matheus se transformou em dois processos. Na última segunda-feira, os meninos foram registrados no nome do casal. Agora eles se chamam Matheus e Felipe Lemos de Melo. E o labrador Randori, já não é mais só do chefe da família. “O Randori deixou de ser meu quando Matheus chegou”, disse o pai.



“Se você me perguntar agora se eu adotaria mais um filho, eu adotaria. Eu tinha medo de adotar. As pessoas têm que parar de ter medo de adotar”, acrescentou Robson, enquanto preparava tapiocas para seus dois filhos.



Justiça



Robson e Rute se inscreveram no Cadastro Nacional de Adoção (CNA), a única diferença é que os meninos chegaram antes do cadastro ser concluído. O que, segundo a 28ª Vara Cível da Capital – Infância e Juventude pode ser um risco, já que a prioridade é para casais que já tem registro no CNA. O casal explica que as crianças não foram deixadas num abrigo e que a família só aceitou ‘dá-las’ para os dois.



Segundo a assistente social Jussara Pacheco, o primeiro passo para quem adotar uma criança é procurar o Justiça. Os futuros pais recebem uma lista de documentos para a adoção: certidão de casamento ou nascimento autenticada, identidade autenticada, CPF, comprovantes de renda e de residência, atestado de idoneidade moral, cópia do RG da testemunha que assinou o atestado de idoneidade, atestado de saúde mental, emitido pelo Hospital Portugal Ramalho ou por um médico psiquiatra, atestado de saúde física, certidões cível e criminal negativas da Justiça Federal e da Justiça Estadual, uma foto e um curso preparatório de dois dias ofertado pelo Juizado da Infância e da Juventude, que tem como titular o juiz José Fábio Bittencourt.



O CNA vale por cinco anos, por meio dele, a Justiça acessa os dados de futuros pais e de crianças aptas a adoção de todo o Brasil. De acordo com a 28ª Vara, em Maceió, existem dois locais que abrigam crianças que precisam de novos lares, a casa de adoção Rubens Colaço, com crianças de 0 a 7 anos, e o Lar de Amparo à Criança para Adoção (Laca), dos 8 aos 18 anos. Dessas crianças e adolescentes, 21 estão prontas para serem adotadas, ou seja, já estão com o poder familiar destituídos.



“Depois da inscrição, que dura cerca de seis meses, é preciso entrar com processo de adoção, seguido pelos processos de guarda e de destituição do poder familiar”, explicou Jussara Pacheco.



Ainda segundo a assistente social, em Alagoas há 77 pessoas na fila para a chamada adoção legal, a que começa com o registro no CNA. Na lista, há casais heterossexuais, um homem solteiro e mulheres solteiras. Em breve, serão incluídos casais homoafetivos. Dos inscritos, 28 casais não têm filhos adotivos, três casais já adotaram crianças estão na fila para mais adoções. Desses casais 18 não possuem filhos biológicos, 13 deles possuem filhos biológicos.



Jussara Pacheco diz que a preferência dos casais por meninas brancas e recém-nascidas ainda existe. Mas que aos poucos essa realidade vai mudando. Ela ainda esclarece que as mães que as mães que desejam ‘dar’ seus filhos para adoção não tem o poder de escolher para quem vai dar a criança. “Qualquer mãe pode procurar o juizado para declarar que não quer mais o filho. Ela não vai ser presa, não vai ser processada. Ela só não pode é abandonar a criança em qualquer lugar. Ou então ela vai ser processada por abandono de incapaz”, disse a assistente social.



Filhos do coração




O casal Nairo Carvalho de Melo e Joseide Mendonça de Carvalho é um dos CNA que possuem filhos biológicos, adotaram duas crianças e estão na fila para adotar mais três. O pastor da igreja Ministério Evangélico Nova Vida, a mesma igreja de Robson e Rute, e sua esposa têm três filhos biológicos de 29, 27 e 25 anos, todos casados, e dois netos.



“Eu tinha dúvidas sobre adotar. Me perguntava se amaria eles da mesma forma que amava meus filhos biológicos. Pensava se deveria adotar, porque um pastor já tem suas obrigações com todos da igreja. E além do mais, meus outros filhos foram criados em um lar estruturado, com ajustado, equilibrado, sem problemas. Hoje eu vejo que os amo da mesma forma, que o amor é igual”, disse o pastor Nairo.



Nairo e a esposa estão com a guarda provisória dos irmãos Vitor, de 6 anos, e Thiago, de 2 anos. O primeiro contato deles foi com Vitor. O menino mais ‘peralta’ do lar para crianças. Durante uma visita a Vitor, o casal se apaixonou pelo irmão dele, o pequeno Thiago.



Mesmo morando com o casal, os meninos continuaram visitando as crianças que ficaram no abrigo e os funcionários de lá. Nessas idas e vindas, Nairo e Joseide conheceram os irmãos Matheus, de 2 anos, Gabriel, de 3 anos e meio e João, de 6 anos. Eles ainda não podem morar com Nairo e Joseide, mas já passam o fim de semana com o casal e com os futuros irmãos. O casal está com a guarda provisória de Vitor e Thiago, que já moram com eles. Ainda não é certo se as outras crianças receberão os sobrenomes de Nairo e Joseide. Eles têm que esperar para saber se na lista do CNA há alguém interessado pelas crianças. A prioridade é para quem se inscreveu primeiro.



“O procedimento é correto, o cuidado da Justiça é correto, mas a solução é demoradíssima. Há uma demora sem necessidade. Demora como em qualquer coisa feita por órgão público. A demora pode fazer com que alguém desista da luta. Se você não ama, se você não quer se não estiver pronto para a luta, vai terminar desistindo”, disse Nairo.



“Não adote por necessidade. Adote por amor. Eu tinha medo de adotá-los por necessidade, por pena. Mas eu os amo. O amor é o mesmo. São os filhos do coração. Aos pais que querem adotar. Adote. Adote sem reservas, porque você o amará como se tivesse nascido de você”, complementou o pai.
 
 
 
 

 

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